A Amazônia vem sofrendo processo de intenso desmatamento. Acre e Rondônia padecem com isso. O Pará, no fim dos anos 70, experimentou graves atentados à natureza, um deles executado pela empresa Volkswagen e patrocinado pela Sudam.
É que houve expressiva renúncia fiscal em favor dessa montadora de automóveis que alegava querer lançar-se em empreendimentos pecuários. E a verdade é que não houve empreendimento algum, porque a empresa, simplesmente, promoveu criminoso incêndio, que ficou absurdamente impune. Não estabeleceu fazenda de gado. Não deu nenhum uso útil ao dinheiro público. Cometeu crime ambiental gravíssimo. Deu início ao processo de desmatamento da região.
Subsídio nocivo. Sob o pretexto de propiciar investimentos na Amazônia, a Sudam entrou com os recursos que a empresa jamais aplicou com seriedade, gerando empregos e contribuindo com o desenvolvimento. Espécie de Nero pós-moderno, tocando na floresta e fugindo de suas responsabilidades face ao desastre. Dinheiro fácil e além do alcance da justiça de então. O “projeto” jamais foi pecuária ou diversificação de campo de atuação. O objetivo era a pilhagem, submetendo o sul do Pará a um sem remédio. Hoje, seria considerado crime ambiental e, portanto, inafiançável.
A floresta amazônica tem sido bastante ofendida, nesses anos todos e, no sul do Pará, o percentual de efetiva cobertura vegetal está perigosamente reduzido. Restam, então, os 97% da floresta amazônica situada em território amazonense, garantidos pelo que produz e rende a Zona Franca de Manaus, composta por fábricas que sequer têm chaminés. Essa mesma Zona Franca que sustenta 4 milhões de amazonenses, na capital e no interior, em seus efeitos diretos e indiretos.
A Zona Franca defende um patrimônio ambiental rico em biodiversidade e em água, que são o maior agente atenuador das consequências do aquecimento global. A floresta é o maior trunfo do Brasil no plano internacional. Merecemos receber tratamento privilegiado investimentos e respeitabilidade política.
A análise meramente tecnocrática não se sustenta. É pequena, porque deveria ser levada em conta a dificuldade que teríamos para explicar ao mundo uma eventual destruição da maior floresta tropical do mundo. Terra Brasil que, porém, desperta o mais vivo interesse planetário. Consequências: perda de peso diplomático e econômico, além de óbvia tensão militar, que poderia levar-nos a uma posição vexatória e temerária.
O Brasil precisa entender, de uma vez por todas, que a Zona Franca de Manaus é a fiadora da floresta em pé. Precisa, portanto, ser apoiada e não combatida. Necessita de investimentos em infraestrutura, capital intelectual, formação e treinamento de mão de obra, hidrovias, portos, inovação tecnológica. Merece que seja asfaltada a BR-319, que ligará o Amazonas ao resto do país e abrirá mercados do Pacífico para nossos produtos.
O governo brasileiro deve buscar parcerias generosas com a Amazônia. Deve abandonar qualquer eiva de preconceito e garantir as riquezas que, sendo amazônicas, também sempre serão brasileiras.
O Brasil haverá de entender que apoiar a Zona Franca de Manaus significará proteger seu próprio futuro e a sua própria estabilidade política e militar. O tempo dirá se tenho, ou não, razão.
Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus