No momento em que Parintins retoma a discussão sobre a criação de um Museu para nossa cultura, nossos Bois e nosso Festival, tive a oportunidade e o privilégio de conhecer o Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais.
O Inhotim é o maior Centro de arte ao ar livre da América Latina. É também a sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil. Fica a 60 km de Belo Horizonte, dentro da mata Atlântica.
Quando se visita o Inhotim, tem-se à disposição quase 100 hectares de Jardins, lagos ornamentais, jardim botânico, grandes esculturas ao ar livre, mata nativa e 25 Galerias de Arte, onde até a estrutura física das mesmas é arte. Nossa... é arte por todos os lados. “Do jeitim que ocê vai gostá”.
Ouvi de um senhora em minha visita: ...é o lugar mais lindo que já conheci na minha vida. Não tem exageros nesta afirmação.
Hoje, o Inhotim é o mais importante destino do turismo cultural mineiro, com apenas 12 anos de vida. Aliás , não passe pela vida sem conhecer o Inhotim.
Um bom começo é fazer um tour virtual por lá: acesse www.inhotim.org.br/visite/tour-virtual/ .
São necessários no mínimo 2 dias e meio para se conhecer o Inhotim. E se surpreender a cada instante com a capacidade que a arte tem de provocar emoções e nos levar a reflexões.
E foi assim, como um raio de luz vencendo a escuridão da ignorância que vive nos cercando, que dei de cara com a Galeria da fotógrafa Cláudia Andujar .
Patrocinado pelo Santander, através da Lei Rouanet, a Galeria de 1.600 m² é a segunda maior do Parque e exibe mais de 400 fotografias realizadas pela fotógrafa nascida na Suíça e radicada no Brasil desde a década de 1950.
Entre 1970 e 2010, na Amazônia brasileira e com o povo Yanomami, Claudia Andujar viveu períodos na região e fez diversas visitas posteriores. Ao longo dos anos, clickou o ambiente, as tradições e o contato dos índios com o homem branco.
Num dado momento de sua vida, passou a ser mal vista pelos Governos Militares brasileiros. Foi no exato momento em que os Yanomamis começavam a conhecer o massacre de suas tradições e de sua cultura graças a uma politica indianista equivocada e desprovida de qualquer sentido moral, ético ou técnico por parte do pessoal que comandava o País na base do ame-o ou deixe-o. Ou do índios? Para que?.
Mas a obra de Claudia Andujar resistiu assim como os Yanomamis resistem até hoje e são cantados e decantados por nossos artistas parintintins em tantos rituais, toadas, lendas, danças e fundamentos que elevam e ampliam as fronteiras de nosso Festival folclórico.
Visitar cada uma das salas da Galeria tirou lágrimas de meus olhos e provocou reações que alternavam admiração, raiva, amor, pena, incompreensão e compreensão.
Porque ao longo de meus 16 anos de Parintins, tudo o que vi e ouvi das mais diversas etnias, principalmente a dos Yanomamis, retrata glória, coragem, fé, magia, respeito à natureza e às tradições dos povos que aqui viviam antes do homem branco e seus exércitos.
No Inhotim, naquela Galeria, me defrontei com uma realidade nua. Nua e crua. Foi um choque entre a poesia e a realidade. Vi como viviam e vi também como vivem estes Indios e esta Nação de glórias e vitórias nas mais tempestivas batalhas, reduzida agora pelo garimpo, pelas ambições, pelo desconhecimento das autoridades, a quase um bando. E um bando não é uma tribo. É um bando de vagantes vagando pelas terras ancestrais dizimadas a procura de seu lugar. O lugar de uma tribo. De uma nação.
Mas são Yanomamis. Serão sempre a Tribo Yanomami.
São Índios do Brasil. E resistirão pois os bravos resistem. Guerreiros são guerreiros. E sua história e sua resistência será cantada em versos e prosa. Em toadas.
E nossos artistas parintinenses, pelo menos por algumas horas na Arena do Bumbodromo, serão Yanomamis.
E sendo artistas e sendo Yanomamis serão como Claudia Andujar: sua obra não será apenas denuncia ou celebração.
Sua obra será o escudo da resistência cultural no País que era dos Índios e hoje expulsa seus Índios em todo o País.
Canta Índio do Brasil! Viva a Cultura Popular!
ALGUMAS FOTOS DE CLAUDIA ANDUJAR NO INHOTIM