Pelo resgate do valor do jornalista

Pelo resgate do valor do jornalista Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas Notícia do dia 20/11/2018

Pelo resgate do valor do jornalista

*Por Auxiliadora Tupinambá

 

À luz de qualquer democracia está a garantia de uma sociedade livre. E esta garantia é dada pela prática do jornalismo. O jornalismo é, antes de tudo, um espaço de contraponto. Embora saibamos que nenhuma democracia jamais será perfeita, sabemos também que sem liberdade de expressão, sem o acesso à informação, não haverá cidadãos e cidadãs que possam ter conhecimento da realidade imediata, que possam formar seu juízo e agir em sociedade.



E este é o compromisso fundamental do jornalismo: a verdade dos fatos. A missão deve ser tentar alcançá-la da melhor forma possível, mesmo sabendo que toda busca será imperfeita; deve ser o ouvir e contemplar todas as versões possíveis dos fatos, embora o tempo e os recursos sejam escassos.

 

O respeito às minorias, a defesa da dignidade humana, a abertura ao contraditório, colocando luz sobre a história, a fim de que ela não passe despercebida, são os valores que norteiam ou deveriam nortear sempre esta prática quase sacerdotal que é o jornalismo.

 

Isto porque, as profissões mais valorizadas pela sociedade são justamente aquelas reconhecidas como fundamentais para o bem comum. Mas, neste contexto, infelizmente, não está a profissão de jornalista, ferida de morte pelo Supremo Tribunal Federal em 2009, quando aprovou o fim da obrigatoriedade do diploma.


Para lidar com a compreensão geral da sociedade, entender que instrumentos técnicos são necessários para a prática do jornalismo, qual é a história da profissão e como ela contribuiu com a formação das sociedades organizadas até aqui, é essencial que o futuro profissional frequente a faculdade de Jornalismo. Além disso, não se pode desconsiderar a importância da formação humanística para o exercício da profissão. A era da pós-verdade em que vivemos é a prova cabal disso.

 

A propagação das chamadas fake news, catapultadas principalmente pelo poder multiplicador das redes sociais, demonstra como, mesmo em tempos de internet, quando cada pessoa é também um veículo de informação, divulgador de notícias, a atividade jornalística continua fundamental. 


O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora estes sejam instrumentos de suma importância para o exercício da profissão nos dias de hoje. No entanto, é perceptível que o valor dele está justamente na qualidade técnica, na credibilidade, no talento, na capacidade de incorporar estas tecnologias a serviço da informação com critérios éticos de apuração. É por isto que o jornalismo configura-se como um bem público essencial à democracia.

 

Pois se no entendimento da mais alta corte do País esta profissão não é tão importante, questiono aqui, o porquê de tantas pessoas com interesses escusos e exclusivamente financeiros se autoproclamarem jornalistas, como que para referendar a credibilidade que não têm. Somente isto serviria de prova para o reconhecimento da profissão. Somente o jornalista é remunerado para questionar, investigar informações de interesse público.

 

E aqui incluo o modelo único adotado no Brasil de prática de Assessoria de Imprensa, exercida, nos últimos anos, por uma maioria de jornalistas. Em respeito às demais profissões do âmbito da Comunicação, os jornalistas passaram a ocupar este posto por fazer a ponte estratégica de informações também de interesse público, de forma única no mundo, sendo, por isto, a área de Assessoria de Imprensa reconhecida pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) como um exercício livre do jornalismo.

 

Nas redações, embora se exija que este profissional esteja sempre em vigília – porque só se pode ser jornalista durante 24h – há a excessiva jornada de trabalho, fruto do enxugamento dos postos de trabalho, sem remuneração adequada, que não condizem com sua importância social, além do frequente desrespeito e prática de crime contra o trabalhador: atrasos salariais, não recolhimento dos benefícios sociais, chegando a constranger o profissional às mais humilhantes situações. Ainda assim, a luta diária é pela garantia da difusão da informação verdadeira e de interesse público.

 

Lembramos ainda, conforme alerta a Fenaj, que “os/as jornalistas enfrentam também questões específicas como fechamento de postos de trabalhos, violência no exercício da profissão e tentativas de cerceamento à sua autonomia profissional, ocorridas nos próprios locais de trabalho. E Ainda assim, resistem. Neste momento de crise por que passa o país, precisam resistir bravamente em defesa de seus direitos, das liberdades de expressão e de imprensa e da democracia brasileira”. 

 

É por isto que defendemos o reestabelecimento do diploma que se encontra na Câmara dos Deputados, por meio da Proposta de Emenda Constitucional 206, conscientes de que não se trata de uma reserva de mercado para diplomados, mas de um interesse público, da defesa dos direitos constitucionais da sociedade que se fazem por meio do jornalismo.


Ser jornalista é enfrentar esta realidade, enfrentar autoridades, presidentes, lideranças, coerção de poderes constituídos em busca do interesse público que alimenta a democracia. E isto nem todos estão dispostos a fazê-lo. É por isto que, ser jornalista é, acima de tudo, orgulhar-se da profissão. É por isso que precisamos estar unidos, enquanto categoria, para seguirmos em frente.

 

*Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas

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